A BASE DOS CUIDADOS DE PELE: PROTEÇÃO SOLAR
Os protetores solares são considerados na União Europeia como cosméticos com um papel ativo na prevenção de problemas oncológicos nomeadamente os cancros de pele.
O nome protetor solar diz-nos que serve para proteger do sol, mas a verdade é que os protetores solares nos protegem de uma parte do sol, concretamente a radiação ultravioleta (UV). Ao contrário da luz visível que, como o nome indica, vemos, e da radiação infravermelha (IV) que produz calor e sentimos, a radiação UV não se vê nem se sente. Habitualmente está relacionada com a radiação IV, mas nem sempre. Ou seja, os dias mais quentes não são necessariamente aqueles com maior radiação UV, embora esta seja a regra na maioria do tempo. Assim, é importante compreender que mesmo com tempo nublado ou chuvoso, o sol continua a emitir radiação UV.
A exposição a radiação UV (radiação essa que atravessa vidros – até dos automóveis – e a maioria da roupa – a não ser que a mesma tenha proteção UV) promove a mutação das células da pele que pode resultar em cancros cutâneos. Para além desta necessidade óbvia de proteção, a utilização diária de protetor solar previne ainda o envelhecimento cutâneo precoce e o agravamento de patologias como o melasma, rosácea e acne. Sabe-se que a radiação UV é responsável pela maioria do envelhecimento causado por fatores externos (discute-se a percentagem, mas será algo entre 70-80%), reforçando assim a importância da proteção solar diária.
QUE PROTETOR SOLAR ESCOLHER?
A Organização Mundial de Saúde recomenda um protetor solar com um SPF (Sun Protector Factor, Fator de Proteção Solar) de 15 ou superior, a maioria dos dermatologistas recomenda SPF30 ou mais. Se o envelhecimento precoce e hiperpigmentação o preocupam, não recomendamos menos de SPF50+ em exposição solar direta.
Outra característica do protetor solar é que não é eterno. Ao mexer no rosto inadvertidamente e ao longo do dia, o protetor solar vai saindo e sendo removido aos poucos, reduzindo-se a “malha” protetora criada quando o aplicamos. Assim, o protetor solar deverá ser renovado de 2 em 2 h para assegurar continuidade da proteção.
Um erro comum de utilização de protetor solar é a utilização de quantidade insuficiente. O SPF é calculado tendo por base uma aplicação de 2mg/cm2 de pele, de acordo com a ISO 24444:2019. Assim, um protetor de rosto de cerca de 30 mL deverá durar-nos para cerca de um mês de utilização diária e um protetor de corpo de 200 mL deverá durar apenas 4-5 aplicações.
O QUE É O SPF OU FPS?
As siglas SPF (sun protection factor) ou FPS (fator de proteção solar) existem na maioria dos rótulos de protetor solar e, na Europa, têm números que ascendem aos 50+, o máximo de proteção que é declarada no rótulo, de forma a não induzir o consumidor no erro de que um protetor pode bloquear 100% da radiação UV. Este número é um fator calculado através da medida de tempo que pele exposta à radiação UV leva até sofrer um escaldão. A diferença entre o nível de proteção dos SPF mais elevados seria quase negligenciável, se na verdade todas as pessoas aplicassem a quantidade de protetor solar utilizada durante as condições de teste. Como na prática isso não acontece na maioria dos casos, permanece a recomendação de utilizar o fator de proteção mais elevado disponível, neste caso o 50+.
Esta medida de SPF refere-se apenas à proteção contra a radiação UVB, adicionalmente temos também a proteção contra a radiação UVA e, neste caso, as escalas variam. Na UE é obrigatório que todos os protetores solares tenham pelo menos 1/3 da proteção UVB que têm da proteção contra a radiação UVA, mas para quem deseja uma elevada proteção, recomendamos a procura por protetores solares de “elevado espetro”, ou a leitura do rótulo, procurando um destes símbolos, que variam consoante o mercado e país em que o protetor solar foi comercializado. Por favor considerem a recente expansão da escala japonesa de PA para ++++, perfazendo assim a escala máxima neste sistema.
Adicionalmente, nenhum protetor solar protege a 100% porque não existe forma de bloquear a 100% a radiação UV. Por isto, é tão importante adjuvar à proteção solar comportamentos preventivos como evitar a exposição solar nas horas de maior radiação, utilização de chapéu e roupa protetora de radiação, utilizar óculos de sol, entre outros.
O QUE SÃO FILTROS SOLARES?
Os protetores solares têm adicionados ingredientes chamados filtros solares, que comprovadamente protegem da radiação UV, nomeadamente da radiação UVA e UVB (sendo que a radiação UVC é bloqueada pela camada do ozono). Durante muito tempo acreditou-se que a radiação UVA era responsável pelo envelhecimento cutâneo precoce e o UVB responsável pelos problemas oncológicos, mas atualmente sabe-se que ambos os tipos de radiação são responsáveis por ambas as questões.
Assim, são combinados filtros solares numa formulação de protetor de forma a cobrir a maioria do espetro UV e a proteger de forma eficaz a pele, formando assim a proteção “largo espetro” de que anteriormente falávamos. Temos maioritariamente dois tipos de filtros solares: os químicos ou orgânicos e os físicos, minerais ou inorgânicos. Esta classificação de filtros é referente à sua origem.
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Os filtros solares físicos são o óxido de zinco e dióxido de titânio e são caracterizados por serem pós brancos muito finos. As primeiras formulações de protetor solar lembravam uma pomada muda-fraldas de antigamente por serem brancas e espessas. Para contornar este problema, estes filtros foram sendo micronizados em partículas cada vez mais pequenas, até termos hoje em dia protetores com estes compostos que são praticamente transparentes. Estes filtros são ainda muito usados em contexto pediátrico por terem um perfil de segurança bem conhecido, que alguns filtros químicos mais recentes não têm (é altamente desencorajado fazer testes de segurança de cosméticos com bebés e crianças).
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Já os filtros químicos são habitualmente transparentes e incluem moléculas como o octocrileno, tinosorb S® (é uma marca de matéria-prima, o nome da molécula é bemotrizinol), avobenzona, homosalato, entre tantas outras. As formulações de protetores solares podem incluir apenas um ou dois filtros solares de largo espectro (que cubram a radiação UV do tipo A e B), ou podem surgir numa combinação de vários filtros de menor espectro que, somados, cubram todo o espectro do UV.
PROTETOR SOLAR PARA A LUZ VISÍVEL
Além do espectro UV, cada vez se fala mais do espectro da luz visível (400-700 nm) e do espectro infravermelho (>700 nm) e do seu impacto na pele e em condições como o melasma ou a rosácea. A verdade é que não existem ao momento no mercado protetores solares que protejam em todo o espectro da luz visível. A luz visível, ao contrário da radiação UV, não é responsável por contribuir para o risco de cancro porque não causa mutações no ADN, mas contribui para o stress oxidativo, inflamação e melanogénese (processo de síntese da melanina, o pigmento que dá cor à pele), nas pessoas que já apresentam tendência para melasma e manchas.
Há cada vez mais evidência que aponta para a necessidade de adição de óxidos de ferro aos restantes filtros solares, uma vez que os mesmos ampliam a proteção UV. Estes óxidos de ferro são particularmente importantes para quem sofre de manchas e são pigmentos que encontramos também nas bases e corretores de maquilhagem.
Assim, a recomendação é a utilização de protetores solares com cor, que são na verdade os mais práticos e mais difundidos. Contudo, devido à parca variedade de cores, frequentemente influenciam a quantidade de protetor aplicada, tornando a sua utilização menos agradável, e deixam a maioria das pessoas ou demasiado brancas ou demasiado escuras. Nestes casos, o protetor solar pode simplesmente ser aplicado com uma base da cor apropriada, uma vez que todas as bases de maquilhagem contêm óxidos de ferro que lhe dão cor e oxido de zinco e/ou dióxido de titânio como opacificantes. No entanto, a maquilhagem nunca deve ser usada como fonte primária de proteção solar porque nunca é aplicada quantidade suficiente para conferir a proteção, uma vez que aplicar 8-10g de base no rosto e pescoço seria muito difícil e teria um resultado muito pouco natural.
Por Sara Fernandes, Mestre em Ciências Farmacêuticas especializada em Cosmetologia, para AVENUE CLINIC